Blogue dos Profissionais RVC do CNO EsMax. Move-nos o desbravar dos caminhos, o alargar das estreitezas.


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01/10/11

Da Escola


"A mudança no ensino infantil, nas sociedades mais complexas, é dupla. Antes de mais, há na cultura muito mais conhecimentos e aptidões do que qualquer pessoa tem individualmente. E assim se desenvolve cada vez mais uma técnica económica de ensinar os jovens, profundamente baseada no dizer fora do contexto e não no mostrar em contexto. Nas sociedades letradas, a prática institucionaliza-se na escola ou no professor. Ambas promovem esta forma necessariamente abstrata de ensinar os jovens. O resultado de "ensinar a cultura" pode, na pior das hipóteses, conduzir ao absurdo ritual e rotineiro que levou uma geração de críticos ao desespero. Isto porque, na escola deslocada, aquilo que se transmite tem, muitas vezes, pouco a ver com a vida tal como a vivemos na sociedade, excepto na medida em que as exigências da escola reflectem indirectamente as exigências da vida na sociedade técnica. Mas estas exigências indirectamente impostas podem ser a característica mais importante da escola deslocada. A escola é um desvio acentuado da prática indígena. Como vimos (anteriormente), tira a aprendizagem do contexto da acção imediata simplesmente ao colocá-la numa escola. Esta separação faz com que a aprendizagem se torne, em si própria, um acto, libertada dos fins imediatos da acção, preparando aquele que aprende para a cadeia de cálculo distante da repercussão necessária à formulação de ideias complexas. Ao mesmo tempo, a escola (se bem sucedida) liberta a criança da rotina das actividades quotidianas. Se a escola conseguir evitar que se estabeleça nela própria uma rotina, pode ser um dos grandes agentes da promoção da reflexão. Além disso, na escola, tem de se "acompanhar a lição", o que implica ter de se aprender a acompanhar quer a abstracção do discurso escrito - abstracto, no sentido em que está divorciado da situação concreta com que o discurso poderia estar originalmente relacionado - quer a abstracção da linguagem oral, mas afastada do contexto de uma acção em curso. Trata-se de duas utilizações profundamente abstratas da linguagem."


Para uma Teoria da Educação – Jerome Bruner 1966 (pela Relógio d’Água em Agosto de 1999)